ó senhor bastonário, nem todos os portugueses são burros! há-os medrosos e há-os tolos como eu. é na qualidade de tolo que vou escrever este texto. vejamos como é que vou frasear sem que me prejudique quando aparecer num hospital deitado numa maca e aparecer-me pela frente um dos que aqui vou visar. tenho 72 anos o que é muito provável que isso aconteça breve. medo? não tenho medo... ah, meus queridos clínicos socorrei-me pois estou a sofrer de uma cólica renal. ai tão bom! isto é dito depois de ter levado uma injeção para as dores. foda-se! os que não passaram por elas não podem dar o verdadeiro valor da intensidade com que ela (o cálculo) nos rasga as mucosas e entranhas. ai! dói tanto! e até que a dor passe olhamos para médicos e enfermeiros como deuses muito queridos. analisemos por fundo (não na forma) a greve dos médicos. se estes assumissem o direito à greve como objectivo de classe, eu nem uma linha escreveria aqui neste blogue. mas, não! o bastonário e os sindicatos apregoaram uma greve geral dos clínicos com o fito de cuidar melhor dos doentes. levou tempo a perceber o que padecem os desgraçados... nunca é tarde. mas, não! é uma falsa questão! o que os médicos querem é arrastar os doentes para obter apoio político (uma greve é um acto político). está em causa o que esta democracia quer fazer deles. isto é, reduzi-los e equipará-los aos desgraçados dos (alguns) advogados. ah, os professores, ah, os enfermeiros, ah, os funcionários públicos e mais e mais. tá? até agora os médicos eram uma classe à parte. até porque muito boa gente escolhia a profissão pelo dinheiro que poderiam vir a ganhar. e ganhariam esfolando os que poderiam pagar os serviços de saúde privados. o estado democrático lixou-os porque aumentou o número dos hospitais e dos centros de saúde. de repente surgiu como por milagre médicos públicos e médicos privados juntos num só como a santíssima trindade. este estado foi quebrando os queixos ao poderoso grupo dos médicos. este estado investiu nos hospitais comunizados permitindo que houvesse de tudo do melhor em termos instrumentais até que em determinada altura os consulórios privados mais pareciam uma repartição pública do tempo do ranhoso salazar. nem papel higiénico havia. também mobiliário em condições, está quieto. eh pá, muitos consultórios cheiravam a junta de freguesia da época do eugénio pacelli. o estado investiu para bem dos mais pobres que nunca tiveram oportunidade de ser tratados como os outros que podiam pagar para poder continuar a viver. os médicos voltaram-se para o estado para lá trabalhar porque a privada não podia competir com o poderoso estado socialista (em certas alturas foi-o!). que faziam os médicos? davam consultas nos seus cubículos e depois "transportavam" os seus clientes, perdão pacientes para as instalações hospitalares estatais onde os tratavam com os meios do estado. chegou a tal ponto que os chefes políticos apercebendo-se do descalabro começaram a tentar disciplinar os clínicos. ou trabalham na privada ou nos hospitais socialistas! qual quê! os médicos que são poderosos arreganharam os caninos e os da política recuaram. e assim passou a haver médicos que em certas horas prestavam serviço na privada e em outras horas para o estado. eram os mistos. claro que havia os que se entregaram apenas no serviço público a tempo inteiro. a estes presto a minha homenagem, amor e respeito. não são para aqui chamados! também realço os que se desligaram da mistura e actuam apenas na privada. estes são médicos de elite e só uma classe os pode consultar. vou terminar, pois a pedra no rim está a dar sinal. ai querido senhor doutor livra-me desta desgraça! parece que tenho um maçarico a queimar-me as entranhas. bem, façam a greve que têm o meu apoio. mas não venham com a cantiga de estar a tentar fazer festinhas nos doentinhos. os doentes a quem os jornalistas perguntaram se estavam do lado dos médicos disseram sem hesitar: estamos com os médicos. claro, quem tem esfíngter e próstata e cu tem medo. sim medo de dizer o que lhes vai na cabeça perante este fenómeno de greves que tem objectivos de classe bem claros. os maquinistas da carris, os comandantes da tap e outros que tais, passarão a partir de agora a fazer greves com slogans deste tipo: é para o bem dos passageiros que estamos a fazer esta greve! só que não pegará. os doentes não têm outra solução senão dizer ai que sim senhor doutor. ai que sim. é que entre o doente e a morte ele já não quer o padre. ele quer é o médico pois sabe que este lhe pode prolongar a vida, ao passo que o padre o recomenda para a cova. é a democracia no seu melhor e o povo começou a perceber que pode ter um médico à cabeceira tal como os ricos no tempo do fascismo moderado. os pobres morriam rodeados de rezas e quando as carpideiras acabavam as hossanas lá vinha o batina negra. era chamada extrema unção. queres uma algália ou uma carreta? algália querido senhor doutor!
manuelmelobento que se mantém anónimo por via das dúvidas